Seán Hoy conheceu nesta segunda-feira, 26, a produção e comercialização do artesanato sergipano, sobretudo da renda irlandesa
Nesta segunda-feira, 26, o embaixador da Irlanda no Brasil, Seán Hoy, visitou o São João da Família, na praça Fausto Cardoso, Centro de Aracaju, onde estão expostos diversos artesanatos sergipanos, incluindo a renda irlandesa, Patrimônio Cultural e Imaterial do estado.
Entre os objetivos da visita está a apresentação ao embaixador dos festejos juninos do estado e dos espaços dedicados à comercialização e exposição do artesanato, sobretudo a renda. A ação é intermediada pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo (Seteem), com o propósito de ampliar a valorização e fortalecimento dos trabalhadores envolvidos.
A agenda de Seán Hoy se estende até esta terça-feira, 27, quando o diplomata viaja até Divina Pastora, Leste sergipano, para conhecer o local onde a renda é produzida. Entre os compromissos de Hoy também estão a visita ao Museu da Gente Sergipana e ao Arraiá do Povo, na Orla de Atalaia, e encontros com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Sergipe (Fecomércio), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Universidade Tiradentes (Unit), além da visita ao município de Divina Pastora, Leste sergipano, onde é produzida a renda.
“Estamos aqui para esses três dias de visita, para aprendermos um pouco mais sobre o estado de Sergipe, principalmente esse projeto das rendas irlandesas, porque é uma coisa nova para mim. Visitaremos amanhã a cidade onde ela é produzida. Hoje já visitamos as universidades e como minha permanência no Brasil está chegando ao fim, pretendo recomendar Sergipe para a nova embaixadora, como um estado de muitas oportunidades”, declarou Hoy, enquanto conhecia o São João da Família.
Na Praça Fausto Cardoso o embaixador não só conheceu as rendeiras e demais artesãos, como presenciou a apresentação do barco de fogo, das espadas, show de trio pé de serra, a culinária típica e a apresentação de bacamarteiros do povoado Aguada, de Capela. Embora o foco da visita do embaixador seja a renda irlandesa, todo o artesanato do estado acaba se fortalecendo com o estreitamento das relações entre Sergipe e Irlanda.
“É um momento histórico que conseguimos consolidar com a presença do embaixador, para fortalecer as relações entre a Irlanda e Sergipe, mais precisamente nas especificidades do artesanato sergipano. Amanhã estaremos em Divina Pastora, onde ele vai ter um dia extenso, assim como tivemos hoje desde a sua chegada no aeroporto. Já visitamos muitas instituições, como a Unit, a UFS, a Fecomércio e tivemos várias reuniões, inclusive com representantes de Portugal, onde foi discutido o escoamento do produto sergipano”, declarou Daiane Santana, diretora de artesanato da Seteem.
São João da Família
O São João da Família é um projeto realizado pelo Sistema Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fecomércio, Sesc e Prefeitura de Aracaju, que recebe apoio do Governo do Estado. A iniciativa oferece 32 barracas na Praça Fausto Cardoso que totalizam a exposição de 18 tipos diferentes de artesanatos.
Em sua barraquinha, a presidente da Associação das Rendeiras Independentes de Divina Pastora (Asdrin), Neidieli de Jesus, aguardava a passagem do embaixador para apresentar a sua arte. Nesta terça-feira, 27, a artesã diz que recepcionará Seán Hoy em Divina Pastora, em nome das rendeiras do município. “A Associação é composta por 35 mulheres. É muito gratificante para nós recebermos o embaixador. Nossa expectativa é alta, para que a renda conquiste cada vez mais o mundo. Na verdade ela já é destaque, porque temos qualidade e somos patrimônio imaterial. Nosso entusiasmo com a visita dele é para reforçarmos esse laço”, disse.
O fogueteiro Márcio Santos, mais conhecido como Marcinho, é do município de Estância e foi convidado pelo Governo do Estado para ser o responsável pelo espetáculo da queima do barco de fogo e apresentação das espadas. “Sou fogueteiro há 23 anos e especialista em barco de fogo. Todos os anos, em Estância, eu preparo o barco e hoje a apresentação não só será ele, como também as espadas”, informou, acrescentando que as espadas se tratam de um show pirotécnico seguro e que seu filho de 14 anos foi quem ornamentou o barco de fogo. “A parte da pólvora é comigo e a decoração é com ele”, revelou.
O barco de fogo consiste em um simulacro de barco ornamentado, que percorre determinada extensão de um fio de aço esticado entre dois suportes. Em virtude de sua importância cultural, o barco de fogo foi objeto de algumas leis estaduais e ganhou até um dia dedicado a ele (11 de junho, dia do barco de fogo) e Estância, o título de Capital Nacional do Barco de Fogo, fruto de um projeto de lei do então deputado federal Fábio Mitidieri, hoje governador do estado.
Mas as artesãs de renda irlandesa não foram as únicas que aguardaram a passagem do embaixador. Josenete Alves disse que faz crochê desde os oito anos de idade e disse que esta é a sua única fonte de renda. “Sou de Frei Paulo e estou aqui para representar a Associação Frei Paulo Artes. Desde o dia 16 de junho estou na Praça Fausto Cardoso e está bem movimentado hoje. Espero que o embaixador passe aqui na minha barraquinha e vou solicitar apoio para o nosso artesanato”, anunciou.
Renda Irlandesa
A renda irlandesa é um tipo de renda de agulha, dentre muitas no Brasil, que combina uma multiplicidade de pontos executados com fios de linha, tendo como suporte o lacê, produto industrializado que se apresenta sob várias formas, sendo o fitilho e o cordão os mais conhecidos na atualidade. Os artesãos trabalham com o lacê do tipo cordão sedoso achatado e, mesmo empregando uma técnica que é muito difundida no Nordeste, resulta na confecção de uma renda singular, ressaltada pelo relevo e brilho do lacê.
Existe toda uma cadeia produtiva envolvida na produção da renda. Em Divina Pastora há três associações: a Associação das Rendeiras Independentes de Divina Pastora (Asdrin), Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa de Divina Pastora (Asderen) e a Associação dos Artesãos, Pequenos Agricultores, Pecuaristas, Renda Irlandesa, Rendendê e Outros (Apric). O embaixador pretende conhecê-las, além das tratativas para viabilizar as exposições e repatriação da técnica para a Irlanda.
Estima-se que a história da renda irlandesa teve início por volta do século XV, na Europa, quando artesãs medievais descobriram a renda de agulha. Apesar de ser remetida à Irlanda, a técnica foi repassada pelas missionárias da Itália, que posteriormente chegou ao Brasil. Há algumas versões de como a arte realmente chegou em Sergipe. Uma delas é que a técnica chegou a Divina Pastora há mais de um século, através de freiras irlandesas, que chegaram no município para catequizar a população.