Criado em 1996, o espetáculo conta a história de Mariazinha, jovem que engravidou do namorado, que por sua vez tinha outras namoradas
Na noite da véspera de São João, 23 de junho, o público que foi curtir o Arraiá do Povo, na Orla da Atalaia, recebeu a apresentação do espetáculo ‘Ópera do Milho’, no Barracão da Sergipe. Remontada pelo grupo teatral sergipano Imbuaça, após 18 anos da sua última exibição, a peça traz no enredo uma clássica história contada em período junino, com a presença ilustre da tríade dos santos do mês: Santo Antônio, São João e São Pedro.
Criado em 1996, o espetáculo conta a história de Mariazinha, jovem que engravidou do namorado, que por sua vez tinha outras namoradas. Ao fugir da responsabilidade, o sujeito é perseguido pelo furioso pai da jovem para obriga-lo a casar com sua filha. Até os santos foram convocados para resolver o impasse. Na trama, não faltam as comadres faladeiras, as amigas do noivo e da noiva, as viúvas intrometidas, as mães possessivas e até o magro cachorro.
Drama e comédia
O elenco utiliza máscaras inspiradas no teatro grego, que expressam comédia e sofrimento e chamam a atenção do público. Durante uma hora de interpretação, a peça resgata em cena as antigas tradições dos ciclos juninos. A remontagem conta com 39 atores e atrizes, quatro cantores e uma quadrilha junina – Pioneiros da Roça – além de contrarregras, assistentes de direção e equipe.
De acordo com o diretor do espetáculo e do grupo Imbuaça, Lindolfo Amaral, muitos dos elementos utilizados são originais do espetáculo criado em 1996. “As máscaras são originais, mas tivemos que restaurar para conseguirmos utilizar. Alguns dos figurinos também são originais, com restauro e revestimentos para manter o que era o original”, conta.
Teatro e dança
A quadrilha Pioneiros da Roça completa o espetáculo com a tradição das danças juninas. Segundo o marcador da quadrilha, Cristiano Dias, 32 quadrilheiros participaram da apresentação. “Participar desse espetáculo grandioso foi um momento histórico, tanto para mim quanto para os quadrilheiros. A Pioneiros da Roça nasceu no Centro de Criatividade, onde também nasceu a Ópera do Milho. E hoje, na noite de São João, ver esse espaço lotado de sergipanos e turistas é algo indescritível”, comenta.
Assistindo ao espetáculo com o sobrinho, a psicóloga Isabela Vasconcelos, de 26 anos, considera que a remontagem ajuda a manter viva a tradição de São João para as novas gerações. “É fundamental esse resgate da cultura, principalmente para as crianças, para que eles também possam conhecer um pouquinho da tradição. É despertar cada vez mais o interesse deles para saber um pouco da nossa cultura, que é tão importante”, ressalta.
Homenagem
A dramaturgia foi remontada em homenagem a um dos criadores da Ópera – Moncho Rodriguez —, que criou a peça ao lado de Cristina Cunha. “Este é um trabalho extremamente emocionante para mim, pois vi esse espetáculo surgir através do Imbuaça. Participei da segunda montagem por três anos consecutivos , em 1997, 1998 e 1999. Em 2005, Moncho refez o espetáculo com algumas alterações. Foi o último ano de exibição. Com a morte dele neste ano, propus à Funcap remontar o espetáculo, voltando à versão original de 1996, para homenageá-lo”, relata o diretor Lindolfo Amaral.
A presidente da Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe (Funcap), Antônia Amorosa, defende a importância do espetáculo e dos artistas que fazem parte dele. “O espetáculo já foi dirigido pela professora Aglaé Fontes e, hoje, é dirigido por Lindolfo Amaral, outra referência para nós. O estado estava em dívida com esse espetáculo, que marcou gerações. Ver crianças, jovens e idosos emocionados, vivendo a pureza da cultura junina, não tem preço, só tem valor”, conclui.
País do forró
Este ano, o Governo de Sergipe preparou para os festejos juninos no estado uma programação com mais de 30 dias de festa. Na capital, a festa acontecerá em cinco pontos: Arraiá do Povo, na Orla da Atalaia, Rua São João, Gonzagão, Centro de Criatividade e 18 do Forte. No total, serão mais de 250 atrações, sendo 140 sergipanas, 40 nacionais, 60 apresentações de quadrilhas juninas e 40 trios pés de serra.
A programação dos festejos juninos realizada pelo Governo de Sergipe tem o patrocínio do Banese, Deso, Maratá, PagBet e Eneva e apoio da Energisa e MOB.